Dark Mode Light Mode

A era da IA: bem-vindo ao mundo “Always Beta”

Por Fernando Teixeira, sócio e CX Lead da Sioux.

Houve um tempo em que a expressão “always beta” era um charme do Vale do Silício, um lema orgulhosamente ostentado pelo Google que sinalizava um estado de inovação contínua. Era um mindset restrito ao setor de tecnologia, onde o ciclo de criar, testar, falhar e corrigir era a norma. Hoje, essa filosofia não é mais uma opção ou um diferencial exclusivo das grandes empresas de tecnologia.

Com a explosão da Inteligência Artificial generativa, o lema adotado pela bigtech se tornou uma condição padrão para a sobrevivência de negócios em praticamente todos os setores.

Estamos vivendo um limite tênue entre uma revolução na produtividade e o risco iminente do caos. A IA é uma faca de dois gumes afiadíssima, onde de um lado temos a promessa de otimizar processos, acelerar a criação e gerar insights em uma velocidade sobre-humana e do outro, o potencial para diluir a voz de uma marca, cometer erros embaraçosos em escala global e, em última instância, desgastar a confiança do cliente – o ativo mais valioso de qualquer empresa.

Essa dualidade foi perfeitamente capturada na fala de Satya Nadella, CEO da Microsoft, que, durante o Fórum Econômico Mundial, defendeu que as consequências não intencionais de uma nova tecnologia devem ser consideradas simultaneamente aos seus benefícios, e não tratadas como um problema a ser resolvido apenas quando aparecer. 

O grande ponto de virada é que a IA não é mais um jogo para especialistas em tecnologia. Os escritórios de advocacia ficam livres para usar a ferramenta para redigir petições, uma agência de publicidade, para criar campanhas inteiras e consultórios médicos, para auxiliar em diagnósticos.

O acesso público à interfaces simples – que são operadas por comandos de texto ou voz – dos grandes modelos de IA democratizou a inovação e, com ela, o risco. O problema é que a maioria desses mercados não foram culturalmente preparados para operar em modo “beta”. Um erro em um software, embora também possa causar grandes prejuízos,  pode ser corrigido com maior rapidez através de um patch, mas um erro em um parecer jurídico ou em uma campanha de marketing pode destruir, em poucos minutos, uma reputação construída ao longo de décadas.

Por isso, navegar nesta nova realidade exige uma nova postura de liderança. A solução não é proibir ou controlar rigidamente, o que seria como tentar represar um rio com as mãos. Tirando a metáfora de lado, é bloquear a inovação e isso nenhuma empresa quer. O caminho é cultivar uma cultura de curiosidade crítica em toda a equipe. Isso significa estabelecer diretrizes claras sobre a identidade e os valores da marca, governança no uso de tecnologia, capacitar e compartilhar aprendizados e boas práticas no uso dos modelos de IA para criar um ambiente seguro onde todos possam testar as novidades e aprimorar aplicações práticas dessa tecnologia sem colocar em risco o core do negócio.

Nesse ambiente, o erro descoberto internamente não é punido, mas sim dissecado como uma lição valiosa contra erros futuros,  outra prática comum no mundo da tecnologia. Creio que, a habilidade crucial a ser desenvolvida – pelo menos neste momento – deixa de ser a de simplesmente delegar bem e passa a ser a capacidade de fazer um bom julgamento técnico e criativo: apurar o senso crítico e repertório para desconfiar, verificar, aprimorar e, acima de tudo, para imbuir o resultado bruto da máquina com intenção humana. É uma nova forma de pensar.

No fim, a  justificativa para esse comportamento é simples e define a nossa era atual: estamos todos em beta. Nossos produtos, nossos processos, nossas decisões. A corrida não é para ver quem chega primeiro a um destino final, pois ele não existe. A corrida é para ver quem se torna mais rápido e inteligente para se adaptar. O verdadeiro ganho da IA, neste momento, não é a perfeição das suas entregas, mas a agilidade e a resiliência que ela nos força a construir para lidar com um futuro que será, por definição, cada vez mais acelerado e volátil.

Voltar

 Coca-Cola leva fãs para experiência VIP no The Town e show exclusivo de Pedro Sampaio by Coke Studio

Avançar

Sem base, sem IA: por que a maturidade dos dados é o primeiro passo para inovar com inteligência artificial